Acédia, o pecado esquecido

“A esperança que se retarda deixa o coração doente…” – Provérbios 13:12

A palavra “acédia” foi perdida no idioma Inglês moderno e está sendo esquecida dos “Sete pecados capitais.” Embora acédia não seja explicitamente mencionada em muitas listas de pecados na Bíblia (Provérbios 6:16-19 ,”Sete Pecados Capitais”; 1 Corinthians 6:9-10, Gálatas 5:19-21; 2 Timóteo 3:1-5), um monge chamado Evagrius Ponticus (345 – 399A.D.), um dos intelectos mais talentosos de sua época, compilou em grego das Escrituras sua lista dos “Oito maus pensamentos”. Ponticus os incluiu nessa ordem: gula (gastrimargia), fornicação (porneia), a avareza (philargyria), arrogância (hyperephania),tristeza diante da felicidade de outros (Lype), ira (orge) , ostentação (kenodoxia) e acédia (akedia). Acédia é listada por último porque Ponticus a considerou “o mais problemático de todos.”
Pouco tempo depois, um outro célebre monge João Cassiano (360 – 435AD), traduziu a lista de Ponticus para o latim, mas com pequenas variações de significados. “Lista dos Oito maus pensamentos” de Cassiano é: a gula (gula), a fornicação (fornicatio), a avareza (avaritia), orgulho (superbia), desespero (tristitia), ira (ira), vanglória (vaingloria) e acédia (acedia).

Em seguida, quase 200 anos depois, Gregorius Anicius (540 – 604AD) – o papa conhecido como “Gregório, o Grande” e chamado pelo reformador protestante João Calvino “o último bom papa”- compila uma lista de pecados derivado da lista de Cassiano que Anicius chamou de “Os Sete Mortais”. Basicamente, Anicius combina orgulho e vanglória, bem como desespero e acédia, e em seguida, adiciona a inveja. Curiosamente, ele “muda” fornicatio (fornicação) para “luxuria” – que expande o significado de sexo ilícito à intenso desejo … desejo! Na mente de Anicius, isso poderia ser sede de poder, comida, bebida, conhecimento, dinheiro e/ou fama. Portanto, em Inglês, a primeira lista de “Os Sete Pecados Capitais” é: a luxúria, gula, avareza, acedia, ira, inveja e orgulho.

Ao longo dos séculos a palavra “acédia” foi transliterado em “preguiça” na maioria das listas de “sete pecados capitais”, para não falarmos que “caiu em desuso”, no idioma Inglês. Mas o que é a definição de acédia – esse antes tão “proeminente pecado”? Segundo o dicionário conciso Oxford da igreja cristã “Um estado de inquietação e incapacidade seja para trabalhar ou para rezar”. De acordo com a Wikipedia, “acédia é deixar de cuidar de algo que se deve fazer. É [melhor] traduzido como apatia indiferente; depressão, sem alegria …” No pensamento cristão primitivo, a falta de alegria era considerada como uma recusa obstinada em apreciar a bondade de Deus e do mundo que Deus criou “.

O teólogo respeitado Tomás de Aquino (1225 – 1274AD) acreditava que acedia era aquilo que Paulo se refere em 2 Coríntios 7:10 como “tristeza do mundo”. Dante Alighieri (1265 – 1321AD), o produtivo escritor italiano de A Divina Comédia, chama acedia de “a incapacidade de amar a Deus com todo o coração, toda a mente, e toda a alma.” A gravidade deste pecado é sublinhada pelo fato de que durante séculos muitos escritores têm expressado que a manifestação final da acédia é um “desespero que leva ao suicídio”.

Quanto a mim, acédia não fazia parte do meu vocabulário até que eu tropecei nesta palavra arcaica enquanto pesquisava casualmente sobre “Os Sete Pecados Capitais”. Assim que li sobre suas definições anteriores, meu coração estava agitado, porque eu – pela primeira vez – poderia identificar meus sentimentos e condição espiritual de 2001 – 2003AD. Esses foram os anos em que fui colocado em licença sabática (retirado de toda a liderança e influência) e depois demitido por minhas convicções sobre as Escrituras (2 Timóteo 3:16 – 17); sobre o mandato bíblico de uma liderança central com um líder central para o povo de Deus (Números 27:15-18; Juízes 2:6-19); que discipulado é uma ordem de Deus para todos os cristãos (Mateus 28:20); que a “igreja visível” deve ser composta por apenas discípulos totalmente comprometidos (Atos 2:41-42); e que nós, como povo de Deus, somos ordenados a evangelizar as nações em nossa geração (1 Timóteo 2:3-4).

Depois de ler o que outros tinham escrito sobre acédia, eu também comecei a pesquisar as Escrituras. Para mim, Provérbios 13:12 resume tudo da melhor maneira, “A esperança que se retarda deixa o coração doente mas o anseio satisfeito é árvore de vida”. Em 1 Coríntios 11, Paulo ensina que quando alguém não está regularmente inspirado no “corpo e sangue de Jesus” durante a comunhão, esta é a razão pela qual “pessoas na igreja” são “fracos, doentes … e [terem] adormecido” (1 Coríntios 11:30). O estado de ser “fraco” a maioria dos discípulos compreende e “adormecido” significa, naturalmente, caído da fé, mas ainda frequenta a igreja. No entanto, “espiritualmente doente” é um termo raramente usado, mas “se encaixa” em acédia!

Talvez a partir dessas duas passagens começa-se a entender porque “preguiça” veio a substituir “acédia”. Quando a pessoa está fisicamente doente, a pessoa geralmente está letárgica, “ferida” e, portanto, desmotivada a “sair da cama.” Portanto, com “doença espiritual”- o coração está doendo tanto que “sente” que é muito difícil “sair da cama” para fazer a vontade de Deus. A preguiça, por outro lado, é simplesmente preguiça – “adora fazer nada” mais do que trabalhar para Deus. Acédia e preguiça podem parecer o mesmo – nenhum trabalho feito para Deus – mas na verdade são muito distintos. Essa substituição aparentemente sutil na lista dos “Sete Pecados Capitais” pode ter sido o início do esquema de Satanás para “esconder” o conceito bíblico de acédia do nosso dia-a-dia.

Então, qual é a causa do pecado esquecido, acédia – “doença espiritual”? Eu acredito que é amargura na alma. Em Hebreus 12, o Espírito diz: “Suportem [todas] as dificuldades, recebendo-as como disciplina [de Deus]”. Uma vez que Deus é soberano, então tudo o que nos acontece ou Deus faz acontecer ou Ele permite. O Espírito de Deus diz que “sim”, esta “disciplina é dolorosa”, mas o propósito de Deus é “produzir um fruto de justiça e paz …”. Então, quando as dificuldades vêm, temos uma escolha, querer se tornar um “melhor cristão” ou um “cristão amargurado”. Em outras palavras, “ficar deprimido”, porque a vida não está indo como havíamos “esperado”. Sua esperança é “adiada”. É por isso que Hebreus 12:15 ensina:”Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus. Que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando a muitos.” Muitos de nós “enxergamos” a amargura como fúria e ódio. Porém, para muitos, amargura nos torna depressivos, letárgicos e afastados… assim como Caim que ficou com seu rosto “transtornado”(Genesis 4:6).

Enquanto estudava sobre esse pecado, eu sabia que deveria procurar na vida de Jesus porque Ele, assim “como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (Hebreus 4:15). Nas horas mais sombrias de Jesus no Getsêmani, Ele compartilha com os seus três irmãos mais próximos – Pedro, Tiago e João, “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo” (Mateus 26:38). Em seguida, ele caiu no chão orando por três horas: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”(Mateus 26:39). Lucas acrescenta que a sua oração foi tão intensa que Jesus suou gotas de sangue. Em seguida, Lucas continua: Quando se levantou da oração e voltou aos discípulos, encontrou-os dormindo, dominados pela tristeza. “Por que estão dormindo? “, perguntou-lhes. “Levantem-se e orem para que vocês não caiam em tentação! “(Lucas 22:45-46). Mais notavelmente, Jesus é tentado com acédia e supera através da oração e entregando sua vontade à vontade de Deus, mas os seus discípulos sucumbem à acédia – “exaustos de tristeza” – sequer conseguem orar!

Portanto, em retrospecto ao examinar a minha própria vida, vi que estava enganado pelo meu pecado e por Satanás (Hebreus 3:12). Pois era um “pagão feliz” antes de eu ser batizado; um jovem cristão “feliz”; um evangelista “feliz”; e um marido e pai “muito feliz”. Quando grandes adversidades vieram, meu coração não era como o de Jesus que “pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz” (Hebreus 12:2). Quando eu enfrentei “oposição dos pecadores”(algumas causadas por meu pecado contra eles) eu acabei “cansado e desanimado” (Hebreus 12:3). Eu não “via a Deus” nos momentos de sofrimento, mas eu era amargo para com aqueles que via “ferir a minha família e a mim”. Enganado por Satanás através do pecado da acédia, eu quase perdi os meus ideais, as minhas convicções bíblicas, e a minha salvação (João 8:43-44). Louvado seja Deus que as Escrituras revelam “a verdade, e a verdade … me libertou!” (João 8:32).

No entanto, algumas noites eu ainda lutava contra a acédia – “exausto com tristeza.” Na verdade, eu estava recentemente condenado pelo filme da Disney Frozen. Eu tive um sonho em que Elena e eu estávamos sentados em um avião e observando os outros passageiros a bordo. Em seguida, dois “irmãos” (que na minha opinião) fizeram a minha família e a mim “uma grande quantidade de dano” vieram pelo corredor (2 Timóteo 4:14). Quando o primeiro veio para mim, eu imediatamente me levantei e o repreendi com raiva! Quando o segundo passou, fiquei ainda mais pecaminoso! Eu não disse absolutamente nada, enquanto o assistia, com desdém, passar. Eu contei a Elena o sonho de manhã e eu sabia que precisava me arrepender dessa amargura que surgiu em meu coração. Então, alguns dias depois, recebi um e-mail informando-me que o homem a quem eu não tinha dito nada tinha acabado de perder um filho para o câncer. Elena perguntou se eu ia escrever um cartão de condolências. Ela pediu durante três dias seguidos! Então eu chorei quando vi que o meu coração estava “congelado”. No filme, a única cura para um “coração congelado” é “um ato de amor verdadeiro”. Surpreendentemente, depois que eu escrevi e enviei um e-mail quente para este irmão, senti uma paz vir sobre mim, conforme meu coração “derretia” deste “ato de amor.” Eu aprendi que eu tenho que “re-crucificar” minha amargura e reafirmar o meu perdão, especialmente porque nenhum nunca foi pedido.

Eu escrevo estas coisas para ajudar outras pessoas que possam se identificar comigo. Através da incrível misericórdia e paciência de Deus, agora vejo claramente que Deus tinha que tirar tudo o que eu valorizava muito. Como Nabucodonosor – que foi “expulso do meio dos homens e passou a comer capim como os bois” – Deus me humilhou muito (exceto a parte de comer capim), fazendo-me entender que eu não sou nada (Daniel 4:33). Através da “dificuldade” de perder toda a minha liderança e a maioria dos meus “amigos”, eu aprendi que eu tenho que viver só para louvar “o Altíssimo” (Daniel 4:34). Agradeço a Deus por Elena cuja lealdade feroz e amor me apontou para Deus e me deu forças para perseverar.

Eu acredito que para a maioria dos “discípulos veteranos remanescentes,” acédia é o nosso “pecado preferido” pois nossa “esperança” de uma igreja gloriosa que atingiria todas as nações foi “adiada” por nossos pecados! Como é que vamos nos arrepender da acédia – “o mais problemático dos pecados”? Primeiro, você deve identificá-lo em sua vida. Em segundo lugar, você deve render-se à soberania de Deus, abraçando suas dificuldades, pedindo o que Deus quer lhe ensinar.

Eu ainda me lembro muito claramente dos estudos com Carlos Mejia no Good Earth Restaurant depois que ele visitou o Culto Inaugural da Igreja da Cidade dos Anjos em maio de 2007. Naquela época, ele compartilhou que ele foi “visitar e conferir” muitas igrejas diferentes e não podia comprometer-se a qualquer uma porque ele estava “muito triste” com a morte da nossa ex-comunhão e “como ele foi tratado.” Talvez a Escritura mais impactante para ele era Lucas 5:31-32: “Jesus lhes respondeu: Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento”. Eu compartilhei com Carlos a partir desta passagem que, ser “doente” é ser um “pecador” e que “arrependimento” que nos tornaria “saudáveis”. Em resposta, Carlos arrependeu de sua acédia – doença espiritual – naquele dia e foi adicionado à família do domingo seguinte! Mas agora, quando Carlos compartilha sobre aquele domingo, ele simplesmente diz: “Eu fui restaurado para o meu primeiro amor!”. Além disso, hoje Carlos lidera poderosamente a Igreja Cristã Internacional de Santiago do Chile!

Tenha certeza disso, “cura” desse pecado não é uma questão de tempo, mas “arrependimento!”. Então, como parte de seu “arrependimento” de amargura, perdoe aqueles que te machucaram, ou você não será perdoado (Mateus 18:23-35). Uma vez que acédia é “a recusa voluntária de apreciar a bondade de Deus”, esteja ciente de que este pecado irá retornar com seus sete amigos demônios a menos que você deliberadamente “Alegrem-se sempre no Senhor … [e orai] com ação de graças … [pois] a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus … [por isso] tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas… [Lembrando que] posso tudo naquele que [à você] fortalece “(Filipenses 4:4-13). Até mesmo superar a acédia! E ao nosso Pai Misericordioso no Céu seja toda a glória!

por Kip McKean, tradução de Ricardo Marcondes

4 comentários em “Acédia, o pecado esquecido”

  1. Obrigado, foi muito bom, aprendi boa coisa, mais espero que aprofundem mais sobre os pecados esquerdo nas igreja Cristã, tipo há gentes que fazem acepção de pessoas, e Deus não aprova isso .

  2. Obrigada por este artigo, pois consegui identificar o meu pecado acedia. Estou deprimida a alguns anos, faço ate tratamento para depressão. Sou ex membro da igreja de Cristo intetnacional de são Paulo e vejo em mim todo esse artigo. Obrigada , orem por mim pois eu creio com a mente mas me falta forças para lutar. Estou a procura .mental de igrejas e um grupo de amigos. Pois perdi a todos me sinto só.

    Esse artigo me ajudou a identificar o pecado, agora preciso de forcas para vence lo.
    Obrigada, peço oração.

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